
Museu do Desenho da Criança
“Todas as crianças grandes já foram crianças um dia, mas poucas se lembram disso”.
(Saint Exupéry)
Quando uma criança desenha ela passa para o papel a sua impressão de mundo. E como seres singulares que somos carregamos em cada um de nós uma percepção de mundo diferente influenciadas por pelos contextos sociais que vivemos, histórico de vida, etc.
Para cada pessoa um mundo e para cada mundo uma série de referencias a serem passadas para o papel. Entendo o desenho da criança como resultado de um registro visual com formas e cores transmitindo em seus traços a relação que existe entre o mundo em que vivemos e todo universo que somos o que resulta em desenhos com elementos retirados da realidade somada a traços de imaginação.
É por isso que acredito ser possível acompanhar através do desenho da criança processos de transições relacionadas a vida da criança, seja questões biológicas ( referente ao crescimento, diferente fases da vida), culturais, por mudanças espaciais ( como por exemplo mudança de casa, cidade) e mudanças na estrutura familiar.
Os elementos que aparecem no desenho infantil podem identificar a força dessas transições ao observar o desenho de uma criança podemos considerar as seguintes questões: Quais elementos estão presentes no desenho? Quais elementos se repetem? Quais desaparecem ou se transformam?
Amanda Delfino Miranda - Aluna
Designar, projetar, planejar, sonhar.
Os desenhos das crianças apresentam perspectivas de um mundo interno e externo que envolve, por exemplo, o ambiente ou espaço em que vivem ou enxergam à sua maneira. Porém, através das minhas observações sobre os desenhos coletados de Mirella, uma criança de seis anos de idade, consegui perceber que, as crianças também podem representar em seus desenhos aquilo que desejam participar em suas vidas cotidianas para além do desenho do papel.
Através de seus desenhos anseia que o seu mundo externo, em especial a escola, seja o seu ambiente familiar, talvez porque neste não existam crianças com quem possa brincar. estimulando a sua imaginação neste ambiente. O único espaço que tem para realizar e estimular brincadeiras, interações é na escola, uma vez que é a única criança de sua casa. O em encontrar outras crianças tendo todo o tempo em que deseja brincar é uma temática repetida em seus desenhos incluindo sempre as mesmas amiguinhas em seus desenhos, mesmo que os cenários mudem.
São tempos de agora esses das crianças sozinhas em suas casas, e enquanto brinca, desenha sozinha em sua casa as fantasias das quais anseia para a sua vida.
Vinicius Expedito Mena de Oliveira - Aluno
Nas coletas realizadas, notamos que a maioria das crianças entre 6 a 12 anos apresentam uma mesma temática: desenhos de casas com telhados, janelas e portas, ao redor deste estão arvores ou flores e um céu com nuvens e um sol.
Estas crianças já estão na escola aprendendo a escrita, e começam a abandonar o ato de desenhar, talvez essa temática prevaleça em cada um, com desenhos assimétricos, um lado diferente do outro.
Foi percebido que as pessoas adultas tendem a desenhar essa mesma temática quando solicitadas, uma vez que assim como o Pequeno Príncipe certa vez foram encorajadas ao insucesso. Esse tipo de desenho pode ser aquele que marca a fase da escola e permanece nas suas lembranças até os dias de hoje.
Nathalia Giannini Queiroz
Desenhar, imaginar e contar.
Coleta de desenhos de uma criança de 06 anos, chamada Julia, desenhos produzidos em sua residência.
Essa criança tem uma grande vivência com a natureza, pois reside em um sitio sendo retratado em seus desenhos. Para cada desenho existe uma história, sendo necessária a maneira de a criança conter sempre um Fim ao término da sua história.
Segue como exemplo uma história feita pela Julia em um dos seus desenhos:
A dona borboleta foi visitar seus amiguinhos vaga-lume, abre a porta vaga-lume quero entrar, a dona borboleta entrou e falou com seus amigos. O que vocês estão brincando? Estamos brincando de pega-pega, pode brincar, você é minha convidada, mas ela tinha que ir embora estava muito cansada de brincar. Tchau amigos. Fim.
Essa maneira da criança interpretar seu desenho mostra também a maneira como ela se comporta, a história nos mostra como a criança gosta de brincar e incorpora no desenho sua perspectiva de brincadeira.
Em seus desenhos, Julia destaca muitos insetos, flores, pássaros, a natureza, o desenho conta o seu ambiente, por morar em uma área rural de São Paulo.
A criança, através de seus desenhos, nos mostra suas fantasias e imaginação, demonstram a disposição que existe em cada criança, cabe a nós sermos capazes de ter a imaginação e a capacidade de ouví-la e vê-la desenhar para que possamos compreender os desenhos das crianças.
Erika Siotani - Aluna
Toda Criança tem o direito a ter o seu desenho apreciado e não julgado.
Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim:
Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo.
Respondera-me: “Por que é que um chapéu faria medo?”
Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante.
Desenhei então o interior da jiboia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim:
As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.
(Trecho do livro O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry).
Amanda Delfino Miranda - Aluna
“Um Olhar para Transcender"
“O desenho de pessoas não videntes traz uma nova perspectiva sobre nossos olhares para a vida. Vida essa que muitas vezes deixamos apagada diante da imensidão de possibilidades que o mundo tem a nos oferecer.
As crianças, jovens e adultos que por algum motivo perderam sua visão ao longo da vida ou já nasceram não videntes, ao passar dos anos adquirem novas habilidades sensoriais, dentre essas a de desenhar, fotografar, esculpir e muitos mais que a imaginação pode proporcionar.
Os desenhos mais do que especiais produzidos pelos alunos da Associação de Apoio a Deficientes Visuais (AADVIS) localizada em Suzano, mostram os vários estilos de traços e delineados expressos no papel como uma forma de transpor seus sentimentos e lembranças.
Devemos refletir e observar sem medo as cores do mundo seus tons e nuances, encarar de coração aberto as oportunidades que surgem ao longo do nosso viver, pois todos nós em algum momento na trajetória percorrida transportamos para uma folha em branco esperança, prazer em desenhar, uma brincadeira, um sonho, um desejo.
E a qualquer instante podemos reaver essa experiência e voltarmos a ser criança de novo”!!!
Stefane Silva - Aluna


"Raciocínio Especial "
A experiência com as coletas dos desenhos das crianças foi extraordinária, pois pude perceber o quanto as crianças possuem em capacidades motoras finas e ou grossas e intelectuais através dos desenhos a imensa capacidade de imaginação e expressão através do desenho.
O que me chamou a atenção foi o desenho de uma criança de 9 anos com necessidades intelectuais, hiperatividade e déficit de atenção, que conseguiu retratar e relatar o percurso que ele fez em uma visita ao seu Pai que estava em uma clínica de reabilitação. Os traços as vezes finos, as vezes grosseiros retratam a capacidade de raciocínio e imaginação para relembrar o trajeto e local na qual me chama atenção para tentar perceber a inteligência e perspectiva que o levaram a relatar e transpor o desenho.
PS: O que leva uma criança nestas condições ter esta capacidade de interpretação e raciocínio ?
Carlos Eduardo de Camargo - Aluno
"Desenhos na Primeira Infância"
Este trabalho consiste em observar o sentimento, a simbologia do desenho infantil, desde as garatujas desordenadas (2-3 anos) até o desenho cultivado na segunda infância.
Lara, 02 anos e 10 meses desenhou garatujas desordenadas, em um dos desenhos por ela criados nomeia como um pato e num outro disse ser o lobo mau e o bicho-papão, outra hora dizia ser a personagem moranguinho, descobrimos em Lara que por sua pouca idade ainda não simboliza, apenas brinca de rabiscar o papel.
Sofia, 06 anos desenhou um homem em cima de um cavalo no alto de uma folha de sulfite. Os detalhes do desenho são interessantes, têm um traço forte e quase todo o desenho feito em linha única, observei que sugere um chapéu do cavaleiro, o cavalo não têm as orelhas, deixa subentendido que o cavalo percorreu um caminho, embora não desenhe a linha de chão.
Rosangela Rodrigues Vieira de Oliveira - Aluna